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O som ao redor – 23/01 – Cinema – repetido
Soberbo
e provocador, ‘O som ao redor’ por vezes parece um registro da vida real tamanho
o seu naturalismo, na proposta e, consequentemente, na linguagem. Em outros
momentos, flerta com o cinema experimental. A construção deste retrato produz
um painel da classe média (pouco explorada em telas brasileiras), abordando
suas idiossincrasias de forma singela através das várias personagens e
situações que o filme apresenta.
Há
uma tensão constante, um mal-estar presente entre as idas e vindas dos moradores
dessa rua do Recife, tudo amplificado pela fotografia e o fantástico desenho de
som, que prioriza ora batidas dub guturais e assustadoras, ora os sons
ambientes que mantém uma constante poluição sonora na tela. Um grande filme
brasileiro.
*A
intenção de ‘Filmes e Memorabilia’ é apenas listar os filmes vistos no ano e muito
brevemente comentá-los, em vez de tecer uma crítica (tarefa para a qual não me
sinto qualificado o suficiente). Se alguém aí se interessar em ler uma
excelente crítica de ‘O Som ao Redor’ (ou de diversos outros filmes), recomendo
a(s) resenha(s) de Pablo Villaça, de quem sou leitor assíduo.
MEMO
– Entre algumas imagens e sequências que certamente se tornarão icônicas, é
perturbadora a cena da cachoeira no engenho, em que o velho Francisco e o neto
João estão se banhando até que, num take fechado de João, as águas da cachoeira
são vertidas em sangue.