Encruzilhada

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domingo, 31 de março de 2013

Filmes e Memorabilia 2013 - Bronson

65. Bronson – 30/03 – Internet


A cada filme que vejo de Nicolas Winding Refn fico mais impressionado. Não apenas com o apuro visual que o cineasta dinamarquês é capaz de imprimir, mas como ele consegue criar o próprio estilo sem pesar a mão e sem sobras.

Em ‘Bronson’, Refn monta o retrato de um personagem aterrador: o inglês Michael Peterson, um sujeito tão violento que funciona quase na lógica de um artista. E de fato, no decorrer dos anos de confinamento, torna-se um artista. Sem deixar de ser um homem violento.

Condenado a sete anos de prisão por roubar um posto dos correios, o homem acaba passando 14 anos na cadeia por brigas com outros detentos e carcereiros. Transferido entre o sistema prisional inglês por incríveis 120 vezes (!) pelo mau comportamento, Peterson acaba livre em 1988. Apenas para ser preso de novo, 69 dias depois, tendo acabado condenado à prisão perpétua. Do total de seus 37 anos de cadeia, 30 foram em solitária.

Não à toa, Charles Bronson, alter-ego psicótico criado por Peterson, alcançou seu objetivo, tornando-se uma celebridade, ainda que bizarra: o preso mais perigoso da Inglaterra.

Nicolas Winding Refn constrói uma espécie de relato biográfico não-realista, pondo Bronson (Tom Hardy, já falo dele) para contar a história diante da câmera e entrecortando os relatos e episódios com uma apresentação teatral do personagem diante de um público. Dos enquadramentos à fotografia, passando pela trilha sonora e o ritmo da narrativa como um todo, tudo impressiona. Da fabulosa sequência inicial em luz vermelha ao fim, Refn deixa claro seu domínio da obra como um todo e a confiança em suas escolhas estéticas.

O resultado é um filme com ecos de Stanley Kubrick. ‘Bronson’ chegou a ser chamado de ‘Laranja Mecânica do século XXI’. Sem entrar necessariamente no mérito comparação, o fato é que as referências estão lá: a extrema violência gráfica, o tipo psicótico, a música clássica, o sistema prisional britânico, o protagonista até canta.
Os méritos de Nicolas Winding Refn, no entanto, precisam ser repartidos com Tom Hardy. Reza a lenda que o inglês engordou 19 quilos fazendo 2.500 flexões por dia, durante cinco semanas para alcançar a musculatura do retratado. Mas Hardy não é apenas uma presença física. É um puta ator, que aqui oferece uma performance hipnótica. O tipo ‘louco’ pode ser um convite ao clichê e ao exagero, mas Hardy aproveita as escolhas do diretor para até brincar com o personagem (como nas intervenções teatrais) e, entre grunhidos e uma voz gutural, criar um homem de quem podemos esperar qualquer coisa, a qualquer momento.

Ainda que um psicopata, um psicopata absolutamente fascinante.

MEMO: As sequências de Bronson no palco são absolutamente fantásticas; a cena em que o personagem se besunta de manteiga e aquela em que promove um assalto numa joalheria desarmado, aos berros com a vendedora, também são memoráveis.  

Trailer: