A simplicidade pode ser uma faca de dois gumes.
Assim como seu filme anterior, HaHaHa, de onde tirei o lema que dá nome ao projeto 'um poema por dia', o diretor Sang-soo Hong faz um filme aparentemente simples, mas dotado de uma espécie de poesia do dia a dia.
Antes de mais nada, há de se reconhecer que o diretor tem seu estilo, na escolha de suas estruturas narrativas e no naturalismo poético de seu cinema. Com vinte segundos de trailer deste 'A visitante francesa' arrisquei que se tratava de um filme do mesmo realizador de 'HaHaHa'.
Assim, se naquele filme o diretor separava a narrativa entre o presente (usando fotos em preto e branco e áudio da conversa de dois amigos) e passado (com a reconstituição dos dois esbarrando com as mesmas pessoas sem se darem conta), aqui há uma estudante de cinema que escreve três esboços de história - como Woody Allen fez em 'Melinda e Melinda', contando a saga de uma mesma personagem em dois genêros diferentes, no caso, tragédia e comédia.
Chamo o estilo simples-poético de Sang-soo Hong de uma faca de dois gumes porque ao mesmo tempo que mostra gente comum em situações humanas 'comuns' com uma certa dose de poesia, por vezes o resultado é simples demais, beirando o entediante. Não à toa, nem me sinto muito em condições de escrever essas impressões porque cochilei no segundo dos três segmentos.
Fato mesmo é que a diva Isabelle Huppert, aos 60 anos, presente em quase todas as cenas, ilumina a tela e levanta o filme, especialmente, nas passagens em que contracena com Jun-Sang Yu, o simpático salva-vidas.
É um prazer ver a atriz variando a composição de personagem em detalhes conforme as histórias (e a protagonista) mudam.
MEMO: O salva-vidas cantando para Anne.