Encruzilhada

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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Comentário Show Gilberto Gil: Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo


Gilberto Gil: Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo


Uma vez eu tive o privilégio de encontrar Gilberto Gil ao vivo. Pude entrevistá-lo num Tá na Área da Copa de 2010, no SporTV. Até então, conhecia pouco da obra do homem. Mas quando ele entrou no estúdio, senti uma energia diferente. Senti que estava diante de alguém muito especial. E não apenas por sua simpatia, elegância e importância, mas por algo que não se vê, algo que ele carrega consigo.

Gil é quase uma divindade, uma entidade. Sua energia, sua presença, sua classe. Sem dúvidas, um sujeito elevado.

Fora sua qualidade e relevância para a música brasileira (e mundial). Ver Gil ao vivo, portanto, é testemunhar não só um monstro, como um monumento, e um pedaço da história da música. Sem dúvida, é um dos grandes.

O show com a orquestra sinfônica de Salvador e os homens das cordas (Bem Gil na guitarra e violão, Nicolas Krassik no violino e Jaques Morelenbaum no tchello – fazendo também as vezes de maestro nas músicas que não toca) e do ritmo (o percussionista Gustavo Di Dalva) é simplesmente arrebatador. Os arranjos das músicas que combinam violão e instrumentos da orquestra são de uma beleza de cair o queixo.

De sandálias, Gil passeia pela Tropicália (Domingo no Parque, Panis et Circenses), vai de ‘Oriente’ a ‘Expresso 2222’, canta ‘Andar com fé’ e homenageia quem ele mesmo chama de ‘mestres’: Tom Jobim, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga. Naturalmente simpático, conversa com o público contando causos como quando o carcereiro da cadeia lhe perguntou se ele queria um violão (‘E pode?’, ele responde). No fim da história, Gil compôs na prisão e acabou fazendo um show para os militares do local. Há ainda a história de quando conheceu Jimi Hendrix no camarim de Miles Davis (‘Parece um mulato de Santo Amaro’, diz Caetano).

Gil ainda canta em inglês, espanhol e francês, economiza alguns agudos sem deixar de disparar seus gritos lá no alto e vai fundo nos graves, além de desfilar toda a sua musicalidade ao cantar que não tem medo da morte sozinho no palco e usando o violão apenas para batucar.

Aos 70 anos (idade que ele não parece ter de jeito nenhum) e em plena atividade, Gil mistura erudito, folclórico, regional, tradição, raiz, África, Europa e Nordeste, e sem nenhuma necessidade, prova uma vez mais o que já sabemos. 

Que é um homem muito especial.