dançando no escuro
despiu-se.
às escuras, olhar em sombra
dançou nu
na áfrica;
foi rei
no breu
livre
plebeu
do sempre
quente
ao canto da tribo
egresso de eras
no transe cego
sábio
ébrio
guerreiro selvagem
bailante
primitivo
instintivo
levado por sentidos
os mais polidos
tolhidos
podados
renunciados
no ritmo da terra
do som
em ebulição
o sangue por uma canção
que expulse demônios
exorcizando, expurgando
no corpo se encontra a proposta
não a resposta
escrita a mão
na escuridão
por intuição
inspiração.
11/07
Antes do fim
Tic tac
Toc toc
Bate à porta a finitude
Traz um canto de aviso:
Quem ainda não morreu
Estará morto;
Se faz de pé, se faz lembrar:
O que não acabou
Um dia vai acabar;
Fim,
A mão pesada que esmaga o sonho
A sombra que se volta sobre o medo
Sim,
Também a luz que ilumina o próprio tempo
Faz poesia da passagem, do momento
Tudo chega ao fim
Tudo chega a um fim
As coisas lindas ficarão
Porém são findas
Todas as coisas, mais lindas
Lindas que mais, partirão;
Eis o tamanho da escuridão
Que nos deixa com a luz
Da vida de nós
Do agora, hoje, do amanhã
Do depois, do sempre
Quanto seja antes, assim,
Todo o sempre, antes do fim.
14/07
Canto do que será
Será à toa?
A rima da criança
Com esperança
E a presença da lembrança
Nessa dança?
O muro, duro
A rima do futuro
Futuro do presente
Pressente
De braços erguidos no ar
Haverá
Chegará
Virá
Será
Será?
O passado
Amado
Como se diz?
Feliz
De quem passou
Quem viveu
Morreu
Quem viu?
Cem mil.
Será? À toa, será?
À toa
Doa, doa a quem doer
Por quem quiser sofrer
Por quem sofrer quiser
Por homem ou por mulher
Esteja onde estiver
Esteja
Será?
Se for, que assim seja.
O mistério é etéreo
Ou não seria misterioso
Orgulhoso de si que só
Fecha o nó da imaginação
O final de uma linda canção
De um agir pela destruição
Na ordem do caos que se aproxima
O lugar está vago e determina
O caminho do meu próprio mundo
O mergulho em mim, profundo
Será.
Pra quem quiser ver.
Será.
Porque assim tem que ser.
25/07
sua ambição explodiu, escorreu e arranhou o céu
um rasgo do tamanho da ambição
fenda afunda no fundo do peito
arranhão
arranha-céu, guarda-sol, louva-a-deus
o rastro é vermelho-sangue-chocolate
caminho abandonado
mendigo embriagado
homem desabrigado
engraçado?
o herdeiro tem berço de prata
o bueiro tem cheiro de mata
trata
seus olhos com a cerimônia que merecem
se esquecem
dos tantos anos de batalha
canalhas
um buraco do tamanho da ambição
o escuro vazio no seu coração
vago, largo, cego, magro
enfio a mão suja no seu peito aberto
me perco
enquanto me esqueço
e te mantenho por perto
cemitério vivo
perigo
uma fenda fatal na escuridão
traição
o gosto amargo da submissão
o rasgo, o estrago da sua ambição.
27/07
Poema da morte antecipada
Singela
Sincera
Pergunta
Assusta;
Seria
Sabia
Da sua
Angústia?
Pudera
Pondera
Pandora
Agora
Embora
Estivesse
Em cima
Da hora;
Por fora
Não fora
A forca
Senhora
Quisera
Tentara
Tivera
Acabara
Partira
Deixara
Partido
Deixado;
Deixado
Deitado
Deixando
Ficar
Sozinho
Sofrendo
Não pôde
Esperar.
10/08
Campanha da alta hora
Caça
Solta
Passa
Volta
Volto
Ao mistério da noite que se lança
Escura até onde o medo alcança
Parte
Corta
Arde
Força
Forço
O corpo se rasga em pedaços no chão
O roto espalha migalhas na mão
Fala
Corre
Mata
Morre
Morro
Por um, por dez, por cem
Por si, por não, ninguém.
sua ambição explodiu, escorreu e arranhou o céu
um rasgo do tamanho da ambição
fenda afunda no fundo do peito
arranhão
arranha-céu, guarda-sol, louva-a-deus
o rastro é vermelho-sangue-chocolate
caminho abandonado
mendigo embriagado
homem desabrigado
engraçado?
o herdeiro tem berço de prata
o bueiro tem cheiro de mata
trata
seus olhos com a cerimônia que merecem
se esquecem
dos tantos anos de batalha
canalhas
um buraco do tamanho da ambição
o escuro vazio no seu coração
vago, largo, cego, magro
enfio a mão suja no seu peito aberto
me perco
enquanto me esqueço
e te mantenho por perto
cemitério vivo
perigo
uma fenda fatal na escuridão
traição
o gosto amargo da submissão
o rasgo, o estrago da sua ambição.
27/07
Poema da morte antecipada
Singela
Sincera
Pergunta
Assusta;
Seria
Sabia
Da sua
Angústia?
Pudera
Pondera
Pandora
Agora
Embora
Estivesse
Em cima
Da hora;
Por fora
Não fora
A forca
Senhora
Quisera
Tentara
Tivera
Acabara
Partira
Deixara
Partido
Deixado;
Deixado
Deitado
Deixando
Ficar
Sozinho
Sofrendo
Não pôde
Esperar.
10/08
Campanha da alta hora
Caça
Solta
Passa
Volta
Volto
Ao mistério da noite que se lança
Escura até onde o medo alcança
Parte
Corta
Arde
Força
Forço
O corpo se rasga em pedaços no chão
O roto espalha migalhas na mão
Fala
Corre
Mata
Morre
Morro
Por um, por dez, por cem
Por si, por não, ninguém.
13/08
a ressurreição do mar de ferro
enterrado no profundo
fundo farto mar de ferro
jaz o coração de quem amou
e temeu, e sofreu
e sonhou
e morreu;
uma alma perdida se encontra por lá
à procura de vida
da beleza de estar
ser
sentir, viver;
há um corpo adormecido
no fundo do mar, um corpo doído
vencido, batido
arrependido
um corpo falido
sozinho no mar de ferro
e coração e alma e corpo
se encontram, se completam
se conhecem, se conectam
juntos, num só ser
com tudo a conquistar, a ver
o filho parte, caminhando por aí
o filho arte
viajante, caroneiro
destemido, aventureiro
corajoso, faz seu mundo
num silêncio, num segundo
tudo é, tudo jaz, tudo há
tudo em pé, tudo faz, tudo já.
18/08
a ressurreição do mar de ferro
enterrado no profundo
fundo farto mar de ferro
jaz o coração de quem amou
e temeu, e sofreu
e sonhou
e morreu;
uma alma perdida se encontra por lá
à procura de vida
da beleza de estar
ser
sentir, viver;
há um corpo adormecido
no fundo do mar, um corpo doído
vencido, batido
arrependido
um corpo falido
sozinho no mar de ferro
e coração e alma e corpo
se encontram, se completam
se conhecem, se conectam
juntos, num só ser
com tudo a conquistar, a ver
o filho parte, caminhando por aí
o filho arte
viajante, caroneiro
destemido, aventureiro
corajoso, faz seu mundo
num silêncio, num segundo
tudo é, tudo jaz, tudo há
tudo em pé, tudo faz, tudo já.
18/08
Quantos todos tantos
Quantos cantos já cantados
e destinos mal-fadados
e suspiros exalados
e caminhos lamentados
Quantas faces conhecidas
e sementes escondidas
e amadas esquecidas
e batalhas já perdidas
Quantas mágoas dissipadas
e paixões não-dissolvidas
e palavras não-faladas
e questões mal-resolvidas
Tantas quantas são passado
Quantas todas são passagem
Muitas quantas foram fardo
Quantas sempre são viagem.
A ruiva
Pé no chão
Terra molhada
Grama entre os dedos
A moça é deitada
Musa, ruiva
Pelo que espera?
Pelo amor que considera
E não lhe chega?
Paixão, sabor e dúvida
Pudera
Sozinha espera
Pela chuva, ruiva
A lhe molhar os fios vermelhos
Abençoando-a pelos cabelos
Tocada pouco a pouco em sua pele alva
Lembrada pelo céu
Pela chuva salva;
A ruiva levanta
Cansou de esperar
Caminha pra longe
Pra outro lugar
O amor não lhe chegou
Haverá alguém pra amar?
Veio a água e lhe salvou
Ela vai sem mais voltar
E amanhã, em outro chão
Outro porém, outro senão
A ruiva há de acreditar:
O sol virá pra lhe secar.
27/09
A terra além do penhasco
Acima dos montes verdes
Há um lugar, além do olhar
Deixo sua voz me guiar
E lá estão vocês
De pés descalços, flutuo
E lá está você
Meu próprio paraíso
E você, num vestido vermelho
E vocês me abraçam, me tocam
Vocês, meus amores,
Estou aqui
Além da montanha,
03/09
A ruiva
Pé no chão
Terra molhada
Grama entre os dedos
A moça é deitada
Musa, ruiva
Pelo que espera?
Pelo amor que considera
E não lhe chega?
Paixão, sabor e dúvida
Pudera
Sozinha espera
Pela chuva, ruiva
A lhe molhar os fios vermelhos
Abençoando-a pelos cabelos
Tocada pouco a pouco em sua pele alva
Lembrada pelo céu
Pela chuva salva;
A ruiva levanta
Cansou de esperar
Caminha pra longe
Pra outro lugar
O amor não lhe chegou
Haverá alguém pra amar?
Veio a água e lhe salvou
Ela vai sem mais voltar
E amanhã, em outro chão
Outro porém, outro senão
A ruiva há de acreditar:
O sol virá pra lhe secar.
27/09
A terra além do penhasco
Acima dos montes verdes
ao fim da noite
posso ver você
me chamando
me estendendo a mão;
Há um lugar, além do olhar
de sol nascente, brilhante
sorridente
crescente sobre mar e areia branca;
Deixo sua voz me guiar
obrigado;
e posso ver, posso estar
neste lugar,
a coisa mais bonita que já vi;
E lá estão vocês
num tempo parado
silencioso;
E lá estão vocês
me convidando pr'um abraço;
De pés descalços, flutuo
braços abertos
carregado de amor
cheio
inteiro
não mais distante;
lá estou eu
sendo o bastante;
E lá está você
trazendo pela mão
o perdão
dizendo que está tudo bem;
Meu próprio paraíso
livre de penar ou juízo,
meu abrigo aberto
vasto, completo
de erros, conquistas
e dores.
E amores. Todos amores.
E você, num vestido vermelho
do beijo, o nosso primeiro;
E você me leva além
e além, adiante
para ser o bastante, o bastante;
E vocês me abraçam, me tocam
e os corpos unidos nos completam
nos confortam
e há amor;
Vocês, meus amores,
dois amores
não há mais temores;
Estou aqui
e estamos todos.
Tudo que se queria ser
aqui
Todos. Nós.
Amado, completo
repleto
realizado;
Além da montanha,
além do penhasco
e eu estou com vocês.