Vadiando pelo youtube, descobri que quase todos os curtas de Jorge Furtado estão disponíveis. Decidi então reunir tudo em dois posts.
- Temporal (1984) -
- Temporal (1984) -
Baseado numa história de Luis Fernando Veríssimo (‘Temporal na Duque’, não consegui encontrar pra postar aqui), este é o primeiro curta de Jorge Furtado, assinando a direção ao lado de João Pedro Goulart.
Lambuzado de surrealismo, encena a confusão que toma conta de uma casa de família quando, numa mesma noite de chuva torrencial, um pai promove uma reunião de seu grupo fanático cristão enquanto as filhas promovem uma festa à fantasia mucho loca.
- O dia em que Dorival encarou o guarda (1986) –
Tão antigo quanto eu, esta pérola também tem créditos de
direção divididos entre Furtado e João Pedro Goulart e um potencial pop ainda a
ser descoberto pelo grande público (‘Milico e merda pra mim é a mesma coisa!!’).
Apoiado numa presença de cena fantástica do tufão João
Acaiabe (Dorival) e num excelente trabalho de direção de atores, este curta
aborda racismo em uma de suas camadas e ridiculariza o sistema hierárquico do
exército, além de trazer os indícios da singular linguagem cinematográfica de
colagem feita por Furtado.
A história mostra a luta de um preso para conseguir tomar um
banho na cadeia militar. O argumento é do livro de Tabajara Ruas, ‘O amor de
Pedro por João’.
- Barbosa (1988) –
Estrelado por Antonio Fagundes, ‘Barbosa’ mostra como
Furtado conjuga cultura brasileira, cultura pop e estilo cinematográfico para
criar uma peça popular e autoral.
Aqui dividindo a direção com Ana Luiza Azevedo, Furtado se
baseia no livro ‘Anatomia de uma memória’, de Paulo Perdigão, para contar a
história de um homem que volta no tempo para tentar impedir a derrota do Brasil
para o Uruguai na Copa de 50.
- Ilha das Flores (1989) –
Uma obra-prima.
Este filme, escrito e dirigido por Furtado, é um misto de
registro documental, narrativa encenada, análise do sistema capitalista e da
sociedade de consumo.
Sem qualquer indício de pieguice, Jorge Furtado conclui seu
filme de maneira contundente, reforçando sua reflexão acima de tudo, sobre o
modo como vivemos e as relações econômicas mais simples estabelecidas entre os
seres humanos.
Revolucionário em sua linguagem de colagem (uma ferramenta dinâmica
e atual), este é um dos mais importantes capítulos da história do cinema
brasileiro.
Narrado por Paulo José.
Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim de 1990.
- Esta não é a sua vida (1991) –
Furtado aprofunda o lado documentário do seu formato, e
parece se mesclar ao estilo de Eduardo Coutinho em sua abordagem de uma história de gente de verdade escolhida ao acaso para ser contada.
Tudo sem deixar de lado a sua própria autoralidade e a
análise (e reflexão) sobre o modo que vivemos, algo dinâmico, algo fragmentado.
Narrado por José Mayer, escrito e dirigido por Jorge
Furtado.
- Veja bem (1994) –
Experimentando mais com a linguagem de colagem Furtado cria um
roteiro inspirado na poética de dois monstros da literatura brasileira: Carlos
Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
Mais livre do registro ou do documento, Furtado dirige esta
peça dividida em duas partes: o lado de fora e o lado de dentro, notados como
talvez a percepção e a experiência, com um tecnicismo direto e pragmático na
primeira parte (o texto ‘Jornal de Serviço’, de Drummond) e uma lírica reflexão
na segunda (‘Os Três Mal-Amados’, de João).