Encruzilhada

Encruzilhada

terça-feira, 30 de setembro de 2014

perder as contas


























peito com peito
posso ouvir a pulsação
seu coração eu sei de cor;
a batida em batalhão
bateria dentro de mim;
fecha-me em teus braços
e não me tira desta cama nunca mais
que eu me alimento
de tempo
e de cada centímetro de corpo;
meu passatempo
contar os pontos
aos poucos
perder as contas
e amanhã começar tudo de novo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

dead killed love is dead died love

Shall we call it love 
The one who lives?
Or who resists?
Love is love when it ends
Surviving love transforms
Itself in something more
Precious thing
Nameless anything

But no love no more.

Unrequited love, one way love
Lives the love that never was
But if never was, can it live?
Can it be?
Is it living to exist in dream, desire, fantasy?
This too, shall not be love then.

And what shall love be so?

Name as you please everything else, though
Comes a time when love can no longer thread;
Love is the one who dies
Love is not love if not dead.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

amor de morte matada é amor de morte morrida

Chamar-se-á amor aquele que vive?
Ou o que resiste?
Amor que é amor acaba
Amor que se transforma sobrevive
E vira algo outro, qualquer coisa preciosa
Coisa sem nome, essa, valiosa.

Mas não mais amar.

Amor sem resposta, amor de via única
Vive o amor que nunca foi
Mas se nunca foi, como poderá existir?
Como poderá ser?
Será viver existir em sonho, desejo e fantasia?
Este também não será amor senão.

E qual será amor então?

Chame o que quiser
Tudo mais que houver
Chega o dia em que amor não pode ser
Amor é o que morre
Amor não é amor se não morrer.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Colaboração com o DCM - Os EUA e o 11 de setembro

Texto originalmente publicado no Diário do Centro do Mundo.

O que os Estados Unidos aprenderam com o 11 de Setembro?


Postado em 15 set 2014

A história sendo feita
A história sendo feita
Eu lembro onde estava no dia 11 de setembro de 2001. Diz-se que em determinados acontecimentos de relevância mundial, todo mundo lembra onde estava. Era a semana de provas no primeiro ano do Ensino Médio e eu tinha acabado de sair de um teste de Geografia quando cheguei em casa por volta das 9h30 da manhã, liguei a televisão e vi o que estava acontecendo nos Estados Unidos. Mais tarde naquele dia, meu irmão mais velho me levaria para garimpar edições extraordinárias de jornais e revistas em bancas e livrarias. Era a História acontecendo.
Treze anos depois, moro em Nova York. Cheguei aqui há pouco mais de um ano, e antes disso tudo, o que conhecia da cidade vinha do cinema americano e do seriado Friends. Estar finalmente aqui depois de consumir tanta coisa relacionada a Nova York criou uma sensação estranha em mim. Eu não conhecia a cidade, mas era como se conhecesse. Hoje posso dizer que sei meus caminhos por aqui.
Estudei durante seis meses no bairro do World Trade Center, o Financial District, no sul da ilha de Manhattan. Por conta de um trabalho, voltei a frequentar a região nessas últimas semanas. Há algumas noites, dois fachos de luz paralelos se erguiam do chão ao céu escuro e nebuloso. Era o ensaio para o que fazem todo 11 de setembro desde 2001. ‘Nunca esqueça’, é o lema dos americanos para o acontecido.
Estando aqui há mais de um ano, conhecendo a dinâmica do funcionamento da cidade, a cara do modo de vida nova iorquino e tendo visto a cultura americana por dentro, posso começar a tentar compreender o que significou aquele dia para quem vivia aqui. Uma série de comparações do site Buzzfeed mostra fotos dos mesmos locais em 2001 – como os vi pela TV – e hoje – como os vejo no meu dia a dia.
Um professor, morador da região à época, contou-me uma bela história de como teve que andar algo como 60 quadras ou mais com a mãe idosa, uma vez que os três pararam de funcionar. Impedido de voltar pra casa por três meses, ele descreveu como foi quando retornou, depois de passar por mais de um posto de controle militar. E o momento em que colocou a Nona Sinfonia de Beethoven para tocar alto na janela do seu apartamento coberto de poeira, detritos e sujeira.
Outro professor me contou como vários amigos revoltavam-se com os turistas americanos ufanistas e fanáticos bélicos que vinham salivando em busca de detalhes, querendo ver o Marco Zero e tudo mais. Hoje há um museu/memorial para o 11 de setembro. Eu não o conheço. E confesso que não sei direito o que pensar sobre a loja do local, que vende de camisetas, agasalhos, bonés, gravatas, livros e documentários com a temática.
Em um excelente artigo publicado no The Guardian, Ali Soufan, ex-agente do FBI e especialista em contraterrorismo, analisa como as decisões do governo americano acabaram levando o país a lutar a mesma guerra todos os anos, há treze anos, e fortaleceram a ideologia de Osama Bin Laden ‘além de seus maiores sonhos’, desaguando no Estado Islâmico (ISIS), o atual maior problema para a política internacional de Barack Obama. Segundo Soufan, os EUA optaram por caçar Bin Laden em vez de destruir seus ideais, concentrando-se mais na perspectiva americana sobre os terroristas, do que no pensamento dos terroristas sobre os americanos.
Ele ainda completa tentando abrir um caminho sobre o futuro da região:
“O enfrentamento militar é inevitável porque palavras não vão derrotar o Estado Islâmico e o seu armamento pesado, mas não pode haver uma solução puramente militar, e esta não pode ser levada a cabo pelo Ocidente. Quando Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Líbano, Turquia e, sim, até o Irã, finalmente agirem como se o futuro da região deles estivesse em risco, só então a maré irá virar”.
Sempre que passo por perto da área do WTC, olho pra cima e vejo o arranha-céu erguido e ainda não finalizado. Com sua antena alcançando 546,2 metros de altura, o prédio é o mais alto do Ocidente, ainda maior que as torres originais (417m cada, com a torre norte chegando a 526,3m também por conta da antena). E sempre me pego lamentando que os Estados Unidos não tenham aproveitado o momento para repensar seu papel no mundo e refletir sobre o custo de suas ações na política internacional, em especial no Oriente Médio. Em vez disso, revidaram violência e terror com mais violência e terror. E ergueram um prédio mais alto, apelidado de ‘Torre da Liberdade’.
Lucas Gutierrez
Sobre o Autor
Lucas é ator, poeta, escritor e jornalista.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Colaboração com o ORNITORRINCO - Memórias de Portugal

MEMÓRIAS DE PORTUGAL



Há muito penso que conhecer o país de alguém favorece uma maior compreensão deste alguém. Num paralelo talvez não tão exagerado, fui a Portugal esperando entender um pouco mais sobre o Brasil.

Para alguém nascido, criado e vivido no Brasil, Portugal é o que na cultura pop chamamos de prequel, isto é, uma sequência, continuação, que na verdade relata acontecimentos cronologicamente anteriores à obra original.

Pois uma vez na terrinha, é fantástico notar inúmeras semelhanças entre nós e eles. E no processo, perguntar, ‘será daí que vem?’.

O trato afável e prestativo, seja com alguém pra quem se pede informação na rua ou para o garçom bom de papo, me parecem muito familiar. Assim também o é o comportamento expansivo e barulhento que observo nas cidades grandes, pequenas e praianas por onde passamos.

Também por mais de uma vez, dei com um certo ‘jeitinho português’ pela frente. Aqui preciso dizer que acho o desrespeito pelas regras um problema sério e complexo no modo de vida brasileiro. Mas também acho que por vezes trata-se de bom senso. É proibido comer no Oceanário de Lisboa. O segurança nos avisa, repreendendo pela banana que minha esposa come, mas logo diz que podemos terminar o lanche há alguns metros dali, ‘onde não há câmeras de vigilância’.

Em duas cidades mais turísticas vejo um ou dois flanelinhas. Em mais de uma ocasião, encontro um monte de carros em estacionamento irregular. Nas cidades maiores, perdi a conta das vezes em que me ofereceram cocaína e haxixe na rua.

Mas é a arquitetura que me chama atenção. As ruas estreitas, as calçadas de pedras (nem todas inteiras, vale dizer), as igrejas barrocas, os palacetes neoclássicos. Está tudo lá, como cá.

E finalmente entendo de onde vem o modo como um homem como o meu pai se veste. E talvez como o seu pai, o seu avô. Morando há um ano em Nova York, cidade habitada por gente de todo o mundo, muitas vezes consigo identificar brasileiros como eu apenas pelo comportamento, pelo modo como falam inglês ou pelas roupas que estão vestindo. Assim como não é muito difícil identificar um estrangeiro passeando em terras brasileiras.

E no que diz respeito à maneira de se vestir, a familiaridade entre Portugal e Brasil é incrível. Seja nas ruas e nos corpos dos locais, seja nas vitrines.

Em algum nível – e perdoem-me se isso soa exagerado – é quase como uma amostra imaginária de um pedaço do Brasil na Europa.

Este sentimento se amplifica com a identificação linguística. Como é reconfortante chegar a outro país, num outro continente, em que falam a mesma língua que você. Num modo de falar às vezes engraçado e bonito na maneira como palavras simpáticas como miúdo (em vez de jovem ou pequeno), bocadinho (no lugar de pouquinho), entre outras que soam bem aos ouvidos.

Sem contar o que batizei de permissividade lírica, quando os portugueses usam expressões que no Brasil ferem a língua, mas que cá soam quase como poesia popular. E assim, ouço sorridente um ‘mais pequeno’ ou ‘mais grande’ aqui e ali, ou um ‘obrigado nós’, em vez do ‘nós é que agradecemos’.

Os portugueses parecem possuir uma lógica própria no raciocínio. Talvez seja daí – e da vontade de dar uma sacaneada no colonizador – que venham as piadas.

- O que há do outro lado do rio? – pergunto a uma menina em Lisboa, de frente ao Tejo, referindo-me a parte urbana que vislumbro do lado de lá.

Ao que ela responde:

- A outra margem.

É como se levassem ao pé da letra cada frase ou questão. Talvez por isso, muito seja chamado pelo que de fato é. A rua da praia chama-se ‘Rua da beira da praia’. O salva-vidas eles chamam de ‘nadador salvador’. A região além do rio Tejo tem o nome de Alentejo, e por aí vai.

Os nomes em si se tornam uma atração à parte. Na estrada passamos por placas anunciando vilarejos como Aldeia das Gordas, Aldeia dos Cunhados, Orelhudo, e o campeão: Almoçageme.

Ainda diante do efeito do modo de falar português, ponho-me a pensar que a fala brasileira realmente parece um tipo de evolução da fala portuguesa, com a informalidade ganhando espaço e o relaxamento do aparelho vocal no ato de processar o discurso. Nós abrimos mais a boca, articulamos mais as palavras e diminuímos os atritos na emissão dos fonemas (ouvi muitos portugueses dizendo ‘xinquenta’ em vez de cinquenta, por exemplo, ou chiando no uso do ‘sc’ como em ‘piscina’ ou ‘seiscentos’).

Tendo estado em outras partes da Europa, não deixei de notar um sabor de decadência por onde rodei em Portugal. Por um breve período, os portugueses dominaram os mares, e consequentemente, o mundo. Mas os curtos tempos de glória não foram tão bem preservados como observo em muitos dos casarões e palacetes antigos nas ruas e becos das cidades.

Todo esse clima de decadência se acentuou com a crise econômica pela qual passa o país. Em abril, a taxa de desemprego chegou a 14,6%. No primeiro trimestre do ano passado, 42% dos jovens estavam sem trabalho.

Com a recessão, profissionais portugueses qualificados, famílias inteiras (incluindo crianças em idade escolar) e ainda pessoas com idade avançada, empregos duradouros e sem condições de arcarem com compromissos estabelecidos, emigram em busca de melhores condições de vida em outros países.

São dados de um relatório do Governo referente a 2013, atestando inclusive que Portugal é o país da União Europeia com maior emigração, com os emigrantes (2,3 milhões de pessoas) representando um quinto da população residente (10,5 milhões).

No total, viajamos 20 dias, cruzando (boas) estradas portuguesas com um pedágio atrás do outro, sendo ultrapassado por muita gente em altíssima velocidade – muito acima do limite – e passando, entre as cidades maiores, o litoral e as pequenas vilas, por mais de 30 cidades (sem correria, o país é pequeno).

Na despedida, imagino que Portugal, como excelente anfitrião, me dissesse ‘obrigado por ter vindo’.

Obrigado eu.

Lucas Gutierrez é ator, escritor e jornalista.