Encruzilhada

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Armas, cartazes e tiroteios


ARMAS, CARTAZES E TIROTEIOS

Há alguns meses, percebi quantos cartazes nos metrôs e cinemas de Nova York traziam personagens armados. Comecei a registrar esses cartazes, sem saber direito com que finalidade.

O atentado de Charleston, na semana passada, onde nove pessoas foram assassinadas numa histórica igreja negra, me deu o que seria um ‘gancho jornalístico’ para falar do assunto ‘armas nos Estados Unidos’.

Mateus Pichonelli escreveu na Carta Capital um interessante artigo comparando as semelhanças ideológicas entre o ultra-conservador brasileiro e o estadunidense e suas distinções no que diz respeito ao acesso a armas. “A diferença (…) é que (nos EUA) basta atravessar a rua para comprar uma arma com nota fiscal”.

Pelos números de assassinatos por armas de fogo dá pra ver que a situação no Brasil é muito mais delicada. Segundo pesquisa da ONU publicada em 2012 com dados coletados entre 2004 e 2010, o Brasil é o 10º na proporção por 100 mil habitantes, batendo perto de 20. Os EUA chegam a 3,2 (26ª posição), mas no time dos ricos disparam na frente de países como Austrália (0,2), Noruega (0,1) e o vizinho Canadá (0,5). Vale dizer ainda que Porto Rico, território estadunidense, é contado à parte e tem um número alto, similar ao do Brasil.
O dado que mais me impressiona é o de que, tendo menos de 5% da população do planeta, os Estados Unidos detém entre 35-50% das armas de porte civil no mundo. São 88 armas para cada 100 pessoas no país.

É verdade, no entanto, que a porcentagem de lares e indivíduos com armas nos EUA é menor atualmente do que há 20 anos (32% e 21% em 2010 contra 46% e 29% em 1990, segundo estudo publicado pela BBC).

Mas dados os números, vamos à opinião. Ou melhor, a impressão. 
Ainda que venha de um país que tem sua própria cultura de armas, fiquei chocado com o que já vi no tempo em que vivo por aqui. A segunda emenda à Constituição dos Estados Unidos, datada de 1791, garante a todo cidadão o direito de possuir armas. 

Em Las Vegas, um dos ‘passeios’ mais vendidos é o que oferece a chance de ir a um stand de tiro no meio do deserto disparar uma metralhadora. Um amigo me relatou algo parecido no estado do Colorado. No Havaí esse tipo de programa é anunciado na rua. 

Chegando ao sul (região que tem todo um histórico de conservadorismo, racismo e culto às armas, e onde fica a histórica Charleston), pode-se observar outdoors nas estradas anunciando e promovendo a compra de pistolas, rifles e munição. Em todo o país há um adesivo na porta dos bares, restaurantes e estabelecimentos privados em geral, onde se lê que não é permitido o porte de armas na propriedade.

E como não poderia deixar de ser, a produção audiovisual é reflexo de toda essa cultura. Digite ‘movie guns’ e você vai encontrar uma seleção de listas com os melhores filmes de armas, as armas mais icônicas do cinema, uma lista do wikipedia de ‘gatas com armas’… 
Já o site Thumbs and Ammo altera cenas e fotos de filmes, substituindo revólveres e metralhadoras por um joinha.   

Mesmo em Nova York, cenário de muitas dessas produções, mas uma cidade com grandes restrições à compra, venda e porte de armas, e onde essas mesmas restrições são vistas como um passo fundamental no processo que reduziu drasticamente a criminalidade da cidade, ainda que só nas paredes, elas estão por toda a parte.