Encruzilhada

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domingo, 4 de outubro de 2015

Diário do Festival do Rio: JT LeRoy e James Brown

Publicado originalmente no ORNITORRINCO

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= O culto a JT LeRoy =
No ano em que o festival homenageia Orson Welles, minha programação pessoal começou por uma história que mereceria um lugar no documentário ‘F for Fake’, filme de Welles sobre artistas que tornaram-se notórios pelo caráter fraudulento de suas obras. 
Com poucos recursos (enquadramentos feios, baixa qualidade técnica de vídeo nas entrevistas), a diretora Marjorie Sturm mergulha na incrível história de ascensão e queda de JT LeRoy, supostamente um prodígio escritor marginal que, depois de uma vida de abusos, prostituição e drogas, desponta como um fenômeno literário no início dos anos 2000.
Onde falta sofisticação ou mesmo ambição estética ou artística, no entanto, sobra humanidade, equilíbrio e honestidade, ao passo que o documentário assume a complexidade e aborda os diferentes pontos de vista sobre o caso - que se por si só já se trata de uma puta história, aqui ainda serve como combustível para uma instigante e relevante discussão sobre arte, mentira e a indústria cultural.
Próximas sessões:
Sábado, 03/10 19:15 C.C. Justiça Federal 2
Quinta, 08/10 14:00 Instituto Moreira Salles
Sábado, 10/10 14:00 Cine Joia
Quarta, 14/10 19:00 Estação NET Ipanema 1
= James Brown: Mr. Dynamite =
Alex Gibney é um prolífico documentarista, vencedor de um Oscar por Taxi to the Dark Side, e que já se debruçou sobre temas que vão do caso Enron às mentiras do agora infame ciclista Lance Armstrong. Seus dois mais recentes trabalhos com a HBO estão no Festival do Rio. Um é o polêmico 'Going Clear: Scientology and the Prison of Belief’. E o outro é esse doc de 2014 sobre o Godfather of Soul.
James Brown é foda e qualquer um pode concluir isso depois de assistir a esse,esse ou esse vídeo. O ponto forte de Mr. Dynamite então é a investigação da técnica de Brown, mostrando em sua narrativa os momentos que definiram a criação do soul e do funk, num estilo de música que marcou um tempo e influenciou gerações, de Michael Jackson e Prince ao nascimento do Hip-hop.
Com Mick Jagger entre seus produtores, o filme faz de um ícone uma figura complexa e tridimensional abordando muito brevemente sua conduta violenta em relação a mulheres, mas atendo-se bastante ao seu posicionamento político conservador, sua ambição e seu relacionamento com a banda.
Entre uma excelente compilação de imagens de arquivo, o maior tesouro talvez sejam justamente as entrevistas com seus ex-companheiros, um coroa mais carismático que o outro, se revezando em causos e detalhes sobre a tirania de Brown, mas sem nunca questionar sua importância para a música dos EUA.
O ponto fraco é que, possivelmente com receio de uma duração mais extensa (vale lembrar que é um projeto da HBO, ou seja, originalmente feito pra TV), o diretor decide por terminar o filme abruptamente, de forma corrida. Ainda que o próprio nome original (Mr.Dynamite: The Rise of James Brown) deixe claro que o filme é sobre a sua ascensão, este é um artista que merecia um pouco mais.         
Quinta, 08/10 16:00 Oi Futuro Ipanema
Sexta, 09/10 18:00 Instituto Moreira Salles
Domingo, 11/10 14:30 C.C. Justiça Federal 1